quinta-feira, 2 de junho de 2011

Bloody Rhodes - Conto 1 - "Noite Rubra"

  Noite chuvosa na pequena cidade de Plainville, no interior do Kansas. Era meia-noite quando os dois irmãos John e Zachary Collins voltavam para casa, depois de muita bebedeira e sexo no bordel local, em seu velho Ford F-1000. Os dois garotos aceleravam pelos limites da cidade, rindo e gritando tão alto que era possível ouvi-los a muitos metros de distância. Infelizmente para eles, o ronco incessante do motor antigo somado aos gritos histéricos acabou chamando a atenção do xerife, que por muita sorte, ou talvez azar, patrulhava as proximidades. A histeria e a alegria logo deram espaço ao pânico quando os Collins ouviram a sirene. Ao perceber a aproximação do xerife, os garotos enfiaram o pé no acelerador, na esperança de conseguir sair dessa sem levar uma multa pra casa, e isso na melhor das hipóteses. O xerife era barra pesada, e costumava pegar pesado com garotos jovens inconseqüentes. A tentativa de fuga logo foi frustrada...a lama resultante da chuva na estrada de terra fez o carro atolar depois de poucos metros.Com certeza,a sorte havia abandonado os Collins essa noite.O xerife saiu da viatura e aproximou-se com sua arma em punho.Era um homem de meia idade, careca, estava um pouco acima do peso.
- Saiam do carro com as mãos na cabeça...não me forcem a tirar vocês daí! - disse o xerife com uma voz rouca e ríspida, tentando intimidar os jovens.
Os irmãos Collins se entreolharam. Já estavam ferrados, não tinham nenhuma escolha, melhor sair para não piorar a sua situação. Saíram do carro. A chuva caindo sobre suas cabeças tornou a situação ainda mais desconfortável. O xerife ordenou que os dois deitassem na lama com as mãos na cabeça. Estava muito frio. Zachary, o mais velho, repetia incessantemente em voz baixa, como se fosse um mantra:
- Eu nunca mais vou beber...eu nunca mais vou beber...
- O que disse palhaço? - disse o xerife, puxando Zack pelos cabelos - Tá querendo me provocar mariquinha?Tá me xingando mariquinha?
- Eu não disse nada senhor...eu não disse nada!
O xerife empurrou a cabeça de Zack contra a lama com muita força.Zack quis gritar, mas sua voz era abafada pela chuva e pela lama.
-  Deixa ele em paz! - gritou John...o medo em sua voz era tão aparente e genuíno quanto sua preocupação com o irmão.
- Oh, vejam só, temos mais um corajoso aqui...quem você pensa que é miserável? - O xerife sorriu...e logo em seguida acertou um chute nas costelas de John. - Eu sou a lei por aqui...nenhum de vocês manda em mim seus bêbados de merda!
- Pára! - Gritou Zack, tentando se levantar. O xerife dá um tiro para cima. Zack se joga no chão na hora paralisado de medo.
- E muito triste pra mim ver essa juventude perdida sabe - disse o xerife com um sorriso sádico em seus lábios - Na minha época, dois garotos que aparecessem bêbados a essa hora no meio do nada, com certeza levariam uma tremenda surra...o que eu faço com vocês garotos?
Os meninos estavam amedrontados...nunca em suas jovens vidas se arrependeram tanto de ter feito uma coisa, e esse arrependimento estava estampado eu seus rostos, misturados ao medo e a lama.
 - Sabem garotos - o xerife olha para baixo e pisa na mão de John - eu sou um homem da lei...mas por baixo de toda essa imponência, eu sou só um ser humano como vocês dois...um ser humano que sente dor, arrependimento...compaixão...agora me dêem um bom motivo pra não dar uma lição de verdade em vocês agora? - O xerife aponta seu .38 para o rosto de Zack agora, que fita o cano da arma completamente petrificado.
- Primeiro por que seria abuso de poder...e segundo por que você me deve respostas Mulligan... você não vai fazer nada com eles até que eu as tenha... - diz alguém, ainda oculto na sombra das árvores. Sua voz é calma e fria.
- Quem tá aí? - diz Mulligan apontando seu revólver em direção a voz.
- Você tá apontando uma arma pra mim?Que bonitinho...você sabe que isso faz você descer muito no meu conceito não sabe Mulligan?Sabe que isso me faz gostar bem menos de você...e você sabe o que eu faço com quem eu não gosto  Mulligan? - o homem de voz fria finalmente se mostra, saindo das sombras e caminhando na direção do xerife. Era um rapaz baixo, 1,70 m no máximo, parecia ter entre dezesseis e vinte anos.Cabelos pretos e curtos.Tinha um nariz alargado para os lados e lábios relativamente grossos, seus olhos estavam cobertos por um óculos de sol.Trajava calça jeans e uma jaqueta preta.
- Rhodes? - disse Mulligan, com terror em sua voz - O que deseja aqui?Eu já lhe disse tudo que eu sabia! - o xerife parecia surpreso em ver o misterioso jovem.
- Não Mulligan...não disse...sua pista me levou a mais um beco sem saída...a uma armadilha pra ser mais exato...então Mulligan, eu só vou perguntar mais uma vez... - Rhodes correu tão rápido que pareceu deslizar. Sua mão esquerda alcançou o pescoço de Mulligan e suspendeu seu corpo, enquanto a direita sacou uma Colt Anaconda da jaqueta e pressionou o cano contra a bochecha de Mulligan.Com o susto, o xerife larga sua arma - Onde está William Ghastey?
- Eu te disse...gasp...na outra...vez - Mulligan mal conseguia respirar.Rhodes apertou seu pescoço mais forte ainda.
- Não Mulligan, você não disse...você me mandou pra uma armadilha da outra vez lembra?Você me mandou pra a morte lembra?AGORA COMEÇA A FALAR, OU EU TE MANDO PRO INFERNO AGORA MESMO!!
- Rhodes, eles pegaram minha filhinha!Se eu não te enganasse, eles iam matá-la!Por favor...eu sou um bom homem...não faça isso comig...
- Não Mulligan...eles não pegaram sua filha...passei na sua casa antes de vir aqui...e sua filha estava lá...sã e salva.Também achei a maleta com os quinze mil dólares que te pagaram pra me mandar para aquela cilada... – Rhodes apertou o pescoço ainda mais forte e arrastou a arma até o olho de Mulligan.
Mulligan gelou...sabia que não tinha escapatória agora...mentiras não iam salvá-lo, sua arma estava longe demais...apenas um milagre poderia salvá-lo agora, mas Deus não costuma intervir por seres tão desprezíveis.
- Rhodes...é...Senhor Rhodes por favor...urgh...eu não quero morr...er – suplicou Mulligan, com lágrimas nos olhos. – Eu não sei quem onde está esse tal de Ghastey...eu implor...
- Está bem então - Rhodes solta o pescoço de Mulligan. – Mas você vai me dizer quem te pagou não vai? – pediu Rhodes calmamente enquanto Mulligan recobrava o ar.
- Eu não lembro bem o nome dele...George Knight ou Dwight, eu acho...ele veio no meu escritório de repente, me disse que você ia aparecer e me disse pra te mandar para Leawood, e disse que se desse certo, eu receberia o dinheiro...é tudo que eu sei... – disse o xerife, massageando o pescoço.
- Humm...eu acredito em você – Disse Rhodes calmamente.
- Desculpe por tudo isso...eu não imaginava o que estava esperando por você em Leawood.
- Ok ok...você está perdoado Mulligan...eu acredito em você. – O jovem misterioso deu as costas e seguiu alguns passos em direção as sombras.
- Oh, quase me esqueço – Rhodes deu meia volta e começou a andar em direção de Mulligan – Eu conversei um pouco com sua filha antes de vir pra cá...boa menina, muito esperta...me contou muitas coisas sobre você e sobre sua falecida esposa...e como você é um ser humano desprezível, sobre as surras, sobre os estupros...
Mulligan entrou em pânico.Rhodes não deveria saber disso...ninguém deveria saber...e mais importante, o xerife se perguntava por que Rhodes estava dizendo tudo aquilo.
- Sua filha me pediu pra te dar um recado. – Rhodes sorriu.
- Hã..? – indagou o xerife – do que você es... – Mulligan não chegou a completar a frase. Rhodes dispara três tiros com sua arma na perna esquerda do xerife. A dor é excruciante, mas antes que possa esboçar qualquer reação, Rhodes dispara mais três tiros contra a barriga do xerife.
- Isso é pelos dezessete anos de tortura e sofrimento seu verme...com os comprimentos da sua filha.Nada pessoal Mulligan, problema seu e dela – Rhodes dispara o ultimo tiro, bem entre os olhos. Sangue e pedaços de cérebro se espalham pela estrada de terra.
- Me desculpem por terem que presenciar isso meninos, mas convenhamos que ele mereceu – disse Rhodes calmamente, fitando os irmãos Collins, que estavam imóveis observando a cena por trás do velho Ford da dupla – Não se preocupem, eu sumo com o corpo e vocês poderão seguir suas vidinhas normalmente como se nada tivesse acontecido, desde que prometam que não vão contar nossa pequena aventura pra ninguém...prometem? – a naturalidade com qual Rhodes falava tornava a situação ainda mais perturbadora. Os garotos permaneceram imóveis por cerca de oito segundos, encarando Rhodes. Nada se ouvia além do barulho da chuva. Zack e John estavam completamente aterrorizados. Essa noite com certeza ficará gravada em suas mentes para sempre.
- Ah crianças, o que aconteceu?O gato comeu suas línguas?Qual é...relaxem – Rhodes levou sua mão até o pára-choque do carro, e o empurrou com força, desatolando o veículo.Os irmãos arregalaram os olhos.Aquilo não era humanamente possível...pelo menos não com uma só mão.Rhodes pôs o corpo de Mulligan sobre suas costas, andou até perto da caçamba do carro e jogou o cadáver lá dentro.Rhodes fitou o corpo por alguns segundos, com um olhar que misturava desaprovação, satisfação e nojo, ele se dirigiu até a porta direita do carro, abriu-a e sentou no banco do motorista, empurrando Zack para perto de seu irmão – A chave, por favor. -  pediu Rhodes.Os meninos deram a chave do carro sem pestanejar -  Vamos, vou levar vocês para um bar por aqui...melhor cerveja de todo o Kansas – disse o jovem assassino com um sorriso sádico estampado em sua face...os garotos permaneceram calados – Que medo todo é esse garotos?Eu não mordo...huhuhuhuhahahahahaha... – Gargalhou Rhodes, exibindo os dois pares de caninos enormes... 

7 comentários:

  1. Gostei disso xD Tem muitos lugares-comuns, mas ficou muito legal, com um clima clássico ou coisa assim... E engraçado, para o gosto bem preparado, ao menos :p Escreve mais!

    ResponderExcluir
  2. Tá bacana, dude!

    Você sabe que a minha opinião é suspeita em relação à história, você botou um cara fodão de passos pensados e que sai numa F1000!
    E o melhor, ele parece você. ;*
    Zuando! Enquanto eu não o ver doente por platonismo amoroso, vai ter minha eterna admiração.

    O sumário voou bem rápido no começo, mas deu pra entender que foi pra não cansar a leitura para o a longa cena dialogada que veio a acontecer, e aconteceu até o fim do texto.
    Tenta brincar mais com os sumários e as cenas.
    E evidencie de alguma forma se é o Tony ou o Rhoads que estão narrando. (Se ele vai contar a história como passado dele, ou se é você omnisciente que vai brincar geral.)

    ResponderExcluir
  3. Gostei... A leitura fica ainda mais interessante se a gente põe algum tema de faroeste pra tocar no fundo. Como a Rafa disse, tem seus lugares comuns, mas ficou divertido, no fim das contas. Continue praticando, você já tem seu estilo. :)

    ResponderExcluir
  4. Confesso que ri bastante durante o texto, mas... depois de alguma reflexão vi que isso não significava algo ruim. Sua história é promissora se focar um pouco no humor negro e começar a brincar com clichês de histórias de vampiros. Já começa pelo protagonista inusitado! *troll*

    Apenas tome um pouco mais de cuidado com a concordância. Os diálogos estão bons, é só continuar praticando para ficarem ainda melhores, nessa narrativa que você está fazendo eles serão cruciais!

    ResponderExcluir
  5. Gosto de leituras que me prendam a atenção e o seu texto fez isso, concordo um pouco com o comentário de "cronicasdomardeprata" brincar com clichês é uma boa ideia.

    ResponderExcluir
  6. Caraca. Que instigante! :D
    O trecho "com um olhar que misturava desaprovação, satisfação e nojo" torna Rhodes e tudo que ele contou sobre o 'polícia' muito real. Essa mistura de emoções, ainda que vagas, parecem vir do vestígio de humanidade nele. Gostei. :)

    ResponderExcluir
  7. Está muito bom, Tonhão, prende o leitor.
    A descrição do Rhodes está muito engraçada, me lembra alguém... Fora uns erros de acentuação gráfica, está muito bom. Quando você lançar o livro, eu quero um autógrafo. Risos!

    ResponderExcluir