quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bloody Rhodes - Conto 5 - "Cruzes"



Catedral Basílica Menor de Colima, México, dez da noite... Nuvens cobrem o céu anunciando uma tempestade que se aproxima. Fim da missa. Os fiéis saem apressados do templo na esperança de alcançarem seus lares antes que a chuva chegue. O lugar fica vazio. O silêncio reinaria supremo no interior do templo se não fosse a conversa sussurrada, quase inaudível vinda do confessionário.
- Padre... Eu fiz o que o senhor pediu. A justiça do Senhor foi feita. - disse Ramón Cortez, com pesar na voz.
- Muito bem filho, muito bem... Com certeza a alma da irmã Piedade descansará em paz agora. - respondeu o padre calmamente.
- Que Deus a tenha padre...
- Que Deus a tenha, meu filho - o padre tosse e se volta para Cortez novamente. - Qual destino deste aos restos do demônio Ramón?
- Queimei e joguei as cinzas ao vento padre... sem vestígios.
- Muito bem filho... Muito bem. 
- Padre, Deus me perdoará pelos meus outros pecados agora que me tornei um instrumento de suas vontades? - perguntou Cortez apreensivo.
- Sim Ramón, o Senhor o perdoará de seus pecados anteriores, desde que continue a seguir suas ordens. Mas ainda há muito a ser feito para apagar seus erros do passado meu jovem... - respondeu o padre com uma calma desconcertante.
- S-Sim padre. - gaguejou Ramón.
Um envelope desliza por baixo da porta do confessionário até os pés de Ramón. A garganta do jovem seca.
- Essa é sua próxima tarefa criança... É a vontade do Senhor.
- Quem é dessa vez padre? - falou Ramón com uma voz baixa, temeroso.
- O nome dele é Hector Banderas... Mais um emissário de Satanás... Adúltero, vaidoso, ganancioso... E assassino. Hector tem envenenado os sopões da cidade, causando a morte de diversos mendigos e de outros necessitados... Essa atrocidade tem que acabar já.
- Estará no Inferno ao fim da noite padre - disse Ramón - a justiça do Senhor será feita.
Cortez levanta-se e sai do confessionário. O padre escuta os pesados portões da catedral se abrindo e se fechando logo em seguida. Alguns segundos de quietude absoluta se passam, enquanto o sacerdote se perde em seus próprios pensamentos... Ele escuta trovões... A chuva chegou. A missão foi dada. Agora é apenas esperar. Ele ergue o velho corpo para sair do confessionário, mas antes que pudesse alcançar a porta, uma voz vinda do outro lado do confessionário rasga o silêncio...
- Padre, eu pequei. - diz a voz.
- Conte-me seus pecados filho...e eu hei de absolvê-lo em nome do Senhor. - diz o sacerdote, tentando mascarar o susto.
- Padre... Eu matei - relata a voz, sem nenhuma emoção.
- Filho, isso é um crime muito grave!E por que você fez isso filho?  - perguntou o padre, aflito...a voz lhe era estranhamente familiar.
- Ele tentou me matar padre...Matar a mim e a um amigo meu.
- Mas filho, você não deveria tê-lo matado... Essa justiça não cabe a ti, e sim ao Senhor.
- Não foi só ele que eu matei padre.
O sacerdote engole seco. Estava lidando com uma alma mais negra do que podia imaginar. Ele tenta observar o rosto do homem através da tela, sem sucesso. As luzes da catedral estavam apagadas.
- Quantos mais filho?
- Perdi a conta depois do milésimo. - ri o homem.O padre se mantém em silêncio.
- O nome Oscar Gutierréz o é familiar padre Frederico? Ou devo te chamar pelo nome verdadeiro Darrel? - indaga o homem.
O nome Oscar atinge o padre como uma marretada no peito. Gutierréz era um de seus agentes... Havia sumido durante um dos trabalhos semanas atrás...
- Sem respostas? Tudo bem... Que tal Xerife Jack Mulligan?Ah quase me esqueço, você mascara muito bem o seu sotaque inglês Darrel...confesso que ainda tive que escutar sua voz duas vezes para reconhecer...
O padre se desespera... Ele está aqui... E não deve estar muito feliz... Ele tenta abrir a porta do confessionário. Bloqueada.
- Opa...não corra ainda Darrel...ainda não terminamos de conversar...e então...qual a sua jogada aqui no México? Drogas? Prostitutas? Assassinos de aluguel? Tudo ao mesmo tempo?
- Vá pro Inferno.
- Já fui e voltei... Não é um lugar tão legal quanto eu pensei. - debocha Jason - aliás, eu escutei sua conversa com o garoto Cortez...usar fiéis de assassinos para sumir com os figurões da cidade para facilitar o seu domínio e do Padrinho...muito esperto...eu deveria ter pensado nisso antes.Vi num jornal que um possível candidato a prefeito sumiu semana passada durante um passeio de carro...aposto que tem sua mão aí...
- Como chegou até mim Castille?  - pergunta o padre claramente transtornado.Jason ri. 
- George Knight... É o nome de um dos seus agentes nos Estados Unidos... Fui a casa dele primeiro... Cara durão. Ele demorou pra falar... Mas me contou sobre seus negócios aqui no México... Eli me arranjou a localização exata... Então, aqui estou.
- Maldição. - praguejou o padre.
- Você deveria ter mandado um Sem-Rosto falar com o porco do Mulligan ao invés de um agente humano... Como você fez com os assassinos de aluguel em Leawood...Erros como esse ainda vão te custar a vida Darrel...aliás...já custaram.
Jason Rhodes dispara três vezes contra o padre pela tela do confessionário. Os gritos de Darrel soam como música para seus ouvidos. Rhodes sai calmamente pela porta segurando uma espingarda calibre. 12 e anda alguns metros em direção ao centro da Catedral... E então grita:
- Sai daí Darrel....Isso com certeza não chegou nem a te ferir direito... - Silêncio. Jason dispara mais três vezes no confessionário, descarregando a arma.
Darrel sai do que sobrou do estande. Ao ficar de pé, o padre olha diretamente para Jason e urra como um animal furioso, enquanto seu corpo começa a se transformar.
- Forma Verdadeira? Isso não me impressiona. - ri Rhodes.
O corpo de Darrel cresce, seus músculos incham rasgando a pele, quatro chifres nascem no topo de sua cabeça... Seus caninos quadruplicam de tamanho e suas unhas se tornam garras. O demônio estava pronto.
Jason faz o primeiro movimento, jogando a arma descarregada no chão e empunhando sua Colt Anaconda...Darrel corre para alcançá-lo...ocorrem os primeiros disparos contra o padre, enquanto Rhodes corre em direção ao altar...As balas perfuram o peito do monstro, mas não o fazem recuar.A gigantesca mão do padre alcança o pescoço de Jason e prende contra o chão, parando-o no meio do caminho.
- Grrraaaaarrghhhh – grunhe Darrel.
- Não consegue falar na Forma Verdadeira? Você é mais fraco do que eu pens... – o monstro pressiona o pescoço de Jason com força, rompendo o piso de madeira abaixo deles. – Ok-kay...nem tão fraco assim. – Darrel ataca com suas garras, tentando decepar a cabeça de Rhodes, que desvia parcialmente ao mover o pescoço para o outro lado... A carne seu lado esquerdo é dilacerada... Seu olho sai rolando pelo piso. Jason contra ataca com um tiro no cotovelo do padre, à queima roupa, seguido de mais um disparo contra o ombro, fazendo com que Darrel diminua a pressão feita contra seu pescoço, permitindo-o escapar. Jason corre para manter uma distância segura enquanto recarrega sua Colt... O padre o persegue. A cada aproximação Rhodes descarregava mais munição contra o inimigo, fazendo-o recuar, até que Darrel o encurrala contra o altar.
- Gwooorhgahhagaaaa!! – urra o monstro, envolto em seu próprio sangue vindo dos buracos de bala, pronto para dar um ultimo bote.
Quando a criatura avança, Jason põe a mão em eu casaco pega uma granada, e a joga contra o chão.
- Hora de ver a Luz do Senhor! – grita Rhodes, jogando a granada no chão. A Catedral se enche de um brilho ofuscante. Flashbang. O monstro recua e tateia as paredes tentando se localizar... E então sente uma pancada violenta no peito. Uma lâmina atravessa sua perna esquerda... Darrel se ajoelha, sem enxergar absolutamente nada, e soca o vento, na esperança de acertar alguma coisa... E é golpeado novamente, dessa vez na cabeça. Quando tenta se levantar, o monstro ainda cego é perfurado por algo no peito, talvez uma lança... Uma lança bem grande.
- Arrhhghhhhhrrrr!! – grita o padre, enquanto é empalado vivo. Ele sente seu corpo ser erguido pela lança. Sua visão começa a voltar. Ele enxerga Jason Rhodes em sua Forma Verdadeira segurando a Cruz de madeira que adornava o altar, e que agora atravessa suas vísceras. Jason flexiona as pernas e segura a cruz na vertical, fazendo com que ela atravesse completamente o tronco de Darrel, e então pula, alcançando o teto da catedral e fincando a cruz lá. O sacerdote ainda se debate por alguns instantes, mas não resiste. O sangue de Darrel jorra no rosto de Rhodes, que lambe o próprio lábio ensangüentado e gargalha freneticamente. Jason então salta de volta ao chão, já em sua forma humana.
- Quem diria? Uma estaca de madeira no coração. – Jason ri e se abaixa para pegar o seu olho esquerdo. Coloca-o no bolso e então sai do templo pelos fundos. A chuva continua. Ele caminha por vários minutos até encontrar seu carro, nos limites da cidadezinha, evitando ser visto por alguém... Afinal, seria muito difícil explicar por que estava completamente ensangüentado e com um olho a menos, além da roupa rasgada e do cheiro de pólvora.
Missão completa... Vingança realizada. Com certeza o Padrinho ia ficar muito “chateado” em perder um de seus homens mais influentes no México. Agora era só voltar ao foco original e encontrar Ghastey.Jason chega até o veículo e começa a catar as chaves no bolso, quando escuta o som de um revolver sendo engatilhado a alguns metros de suas costas.Nenhum dos dois se mexe.O atirador segura a arma com mais firmeza e começa a respirar tão rápido que parece bufar.Jason sorri.

...

- É você Satanás? 

8 comentários:

  1. É espontâneo e envolvente. Sem apelos pra "sofisticar" a linguagem. E tendo acompanhado as publicações do autor, sou testemunha de uma melhora significativa e contínua. Fico feliz em poder ler e colaborar. Parabéns *.* Pelo talento e pela dedicação.

    ResponderExcluir
  2. E esse final a la Chaves? HAUAHUAHU
    Gostei muito, de verdade. Só eu que imaginei um anime lendo isso aí?
    Vou tentar passar pro papel depois, voltar a treinar minhas drawning skills xD
    Tás de parabéns manolo, curti muito

    ResponderExcluir
  3. Isso daria um exemplo Boss pra algum jogo awesome.

    No parágrafo que Padre manda o carinha ir pro inferno...

    ...Vi num jornal que um possível candidato a prefeito **foi sumiu** semana passada...

    Não entendi essa parte, tá certo?

    ResponderExcluir
  4. -É você Satanás??
    Bruxa do 71 sobre o revolver

    hauahuahuahuah

    ResponderExcluir
  5. Era "um candidato sumiu" sem o "foi"...erro de digitação...corrido ^^ Valeu Le Apoio Galerê.

    ResponderExcluir
  6. /\ corrigido*

    Essa da bruxa foi foda, mimese pura com o México.
    Jason continua o protagonista odioso que a gente quer que sobreviva, e quando leio suas falas, só vem uma voz na minha cabeça o narrando. xD
    Foi uma leitura muito bacana. (y)

    ResponderExcluir
  7. Consegui visualizar bem o padre fincado no teto da igreja por uma cruz e é uma ótima imagem, nunca vi nada parecido... Também gosto das introduções com personagens aleatórios, eu já tava tão entretida com o doidjinho dizendo "sim senhor, farei o trabalho do Senhor blablabla", que já nem suspeitava a chegada do protagonista da série.

    E será que Lily voltará à cena? Eu faria um suspense sobre esse momento, se houver. ;)

    ResponderExcluir
  8. "- Arrhhghhhhhrrrr!! – grita o padre, enquanto é empalado vivo. Ele sente seu corpo ser erguido pela lança. Sua visão começa a voltar. Ele enxerga Jason Rhodes em sua Forma Verdadeira segurando a Cruz de madeira que adornava o altar, e que agora atravessa suas vísceras. Jason flexiona as pernas e segura a cruz na vertical, fazendo com que ela atravesse completamente o tronco de Darrel, e então pula, alcançando o teto da catedral e fincando a cruz lá. O sacerdote ainda se debate por alguns instantes, mas não resiste. O sangue de Darrel jorra no rosto de Rhodes, que lambe o próprio lábio ensangüentado e gargalha freneticamente. Jason então salta de volta ao chão, já em sua forma humana."

    Certamente um dos melhores trechos de Bloody Rhodes até agora, que prendeu minha atenção até o fim =) É muito bom ver como a narrativa evolui a cada capítulo, e como Jason cativa o leitor a cada demonstração de sua falta de humanidade badass xD As cenas de luta ainda ficam meio confusas às vezes, mas depois desse parágrafo estou com boas expectativas para o próximo capítulo.

    ResponderExcluir